domingo, 19 de outubro de 2008

Sou prosa!


Faço versos, versos simples, mas sou prosa e quanto mais revejo e releio meus escritos, mais me convenço disso. É quando escrevo sem medir o tempo, o espaço, sem fazer rimas e sem buscar metáforas em lindas palavras, que me solto e me coloco inteira. Sentimento puro, à flor da pele, recheado de momentos de puro carinho e, em outras vezes, carregados de pura ira. Escritas que demonstram alegria imensa, outras uma profunda tristeza, mas que elevam, fazem voar, energizam, acolhem, recolhem, envolvem e se dissolvem, mas que deixam marcas profundas e que me tornam essência de puro sentimento.

Se, algum dia, alguém quiser saber o que realmente faz com que eu me sinta viva eu sei que, ontem, hoje, amanhã e sempre eu direi, sem pensar sequer por um segundo: - sentir! Sentir que existo, vibro, amo, desejo, me encanto, me reconheço, percebo, entristeço, choro, perco o controle, recupero, subo, desço, respiro e transpiro, mas vivo. Vivo intensamente cada momento e isso é o que eu desejo fazer para sempre.

Se, algum dia, alguém quiser saber o que realmente faz com que eu me sinta morrendo em vida, eu sei que, ontem, hoje, amanhã e sempre eu direi, sem pensar por um segundo: - não ser! Não ser eu mesma, medir palavras, buscar desculpas, ocultar sentimento, polemizar, deixar de ouvir, saber o outro, perguntar, esconder, me anular e constatar que perdi meu tempo com algo que não tivesse realmente sentido.

Se alguém, um dia, quiser saber o que realmente faz com que eu me sinta feliz, ontem, hoje, amanhã e sempre eu direi, sem sequer pensar: - carinho! Carinho verdadeiro, que embala, transforma, aquece, estremece, supera, envolve, acolhe, transfere, purifica, marca, supera e que modifica tudo, para tornar-se cada vez maior.

Se, por ventura, alguém me perguntar o que me deixa realmente triste eu direi, sem sequer piscar: - a violência! Violência gratuita, sem sentido, que fere, dói, magoa, persegue, repele, mata, corroi, animaliza, banaliza e sufoca até a morte.

Se alguém me perguntar o que me causa dor, ontem, hoje, amanhã e sempre, com certeza eu direi: - o medo! Medo de não saber, de não ser, de não sentir Medo que paralisa, que destrói sonhos, que endurece, emperra, afasta e que impede a vida.

Se alguém me perguntar, o que realmente me causa ira, ontem, hoje, amanhã e sempre eu direi: - o escárnio! Escárnio que envergonha, minimiza, que potencializa a dúvida, que tira a confiança, que amedronta, desmoraliza, embrutece, violenta, brutaliza e que faz com que o outro não se perceba capaz.

Se alguém quiser saber o que me faz desistir de me aproximar de alguém, ontem, hoje, amanhã e sempre eu vou dizer: - a arrogância! Arrogância que afasta, bestifica, impede, incomoda, violenta, zomba e não se reconhece.

Se alguém quiser que eu defina, em uma única palavra, a minha maneira de ser, ontem, hoje, amanhã e sempre eu responderei de imediato: - humana! Humana a ponto de sentir, permitir, abrir e baixar a guarda, oferecer, conciliar, reavaliar, superar, rever, doar, entregar, compreender e buscar, sempre, um modo de aproximar. Aproximar para saber, sem ser injusta, para conhecer, rever, ponderar e conviver para viver e então, sentir. Sentir que me faz voltar ao momento inicial desse desvendar de mim mesma e descobrir-me prosa. Um pouco poética, mas prosa.