terça-feira, 26 de agosto de 2008

ELEIÇÕES..!


Além de atrasar o início da novela e de representar um irresistível convite a desligar o rádio do carro para desfrutar o silêncio meditativo na hora do rush, o horário eleitoral gratuito, em tese, deveria ter como função principal assegurar que todos os concorrentes possuam o mesmo direito ao expor suas propostas. Mais do que isso, a possibilidade que concede aos candidatos – de se dirigirem diretamente aos eleitores por um período de quase dois meses ininterruptos - garantiria a qualquer eleição o caráter democrático, visto que todos os partidos devem estar representados no programa. Acontece que, na prática, a propaganda eleitoral há muito se transformou num divertido show de disparates, que acaba conseguindo conquistar a atenção do eleitor, mas pelo motivo errado. A começar pela enorme incidência de pessoas absolutamente desprovidas de qualquer carisma ou eloqüência, as quais deveriam concentrar o foco de suas campanhas numa boa fotografia - segurando uma criança no colo, por exemplo - ou num texto inflamado redigido por algum assessor. Em vez disso preferem se apresentar aos eleitores vesgos, lendo o texto que deveriam saber de cor, ou simplesmente fazendo um “ok” para a câmera, enquanto o locutor diz a única frase que o tempo disponível lhes permite. Esta categoria, aliás, está sempre bem representada, pelo menos desde que Dr. Enéas e seu famoso e sucinto bordão conquistaram (pasmem) 4,6 milhões de votos e a terceira posição na corrida presidencial de 1994. Nas eleições seguintes Enéas levou seu minúsculo partido, o Prona, ao quarto lugar na disputa pelo comando do Palácio do Planalto e, a partir do fenômeno cômico em que se transformou, forneceu provas significativas de que idéia alguns brasileiros têm da política e, principalmente, do tipo de uso que dão ao seu voto. Os que assistem ao horário eleitoral com o real intuito ao qual este se destina, podem se deparar com algo além de momentos constrangedores, capazes de fazer lamentar qualquer entusiasta da representação partidária no Brasil; há também o outro lado, o das grandes siglas que possuem recurso e tempo suficientes para expor suas plataformas, que empregam milhões em estratégias de marketing, em vídeos de campanha produzidos com recursos cinematográficos, cada vez mais indispensáveis para a conquista dos cargos. Enquanto tomadas de helicóptero, efeitos de computação gráfica e jingles afiados distraem a atenção do telespectador, o foco da propaganda sai do discurso e vai para a estética. E é exatamente aí que a programa eleitoral gratuito se mostra falho em sua concepção: como evitar que um espaço destinado a elucidar as dúvidas do eleitor se transforme num ringue onde a verdadeira disputa se dá através das cifras? Em outras palavras, estaria a democracia realmente representada em sua forma plena num cenário de forças tão desiguais? Hoje posso afirmar sem hesitação que grana também elege. Talvez isto não represente uma grande questão em outros países cuja população possua maior nível de instrução, mas, no Brasil, onde o voto é obrigatório para estimular a participação política de todas as camadas sociais, este é sim um grave problema. Quantos são os eleitores que possuem a capacidade de abstrair uma campanha de recursos modestos em nome das propostas apresentadas? Camisetas, chaveiros e dentaduras ainda hoje funcionam como ótimos cabos eleitorais. Não sou contra a propaganda eleitoral televisiva, mas sou a favor de que ela exista de maneira institucionalizada. Uma cadeira, uma bancada, um candidato e suas propostas, condições iguais para todos. Pense como se sairiam alguns conhecidos políticos sem o aparato que existe por trás de suas candidaturas, ao passo que outros não teriam outra alternativa a não ser evidenciar a fragilidade de suas propostas. Quem sabe dessa forma a propaganda eleitoral seria mencionada por outro motivo além de atrasar a novela?

PRESTEM ATENÇÃO EM QUEM IRÃO VOTAR.