quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Na varanda...


Quando você conhece alguém que ainda não conhecia da convivência, que não foi amizade de infância, ou colega de classe, vizinho ou conhecido, que não é pessoa comum de seus dias, você ainda não pode conhecer seu histórico, seus pecados e suas virtudes. Os desconfiados usam prudência e pé atrás sempre. Mas há pessoas que vamos com a cara logo de cara. Gente Rara.
Você só conhece o outro ainda incógnito pelo que vê, pelos seus gestos, pelas suas atitudes, sobre o que fala, uma análise mais apurada só se tem com a convivência. Mas as aparências enganam, são traiçoeiras, para sim ou para o não, “quem vê cara não vê coração”. Podemos nos surpreender com alguém ou nos decepcionar. E a mesma impressão que temos do desconhecido ele também poderá ter de nós. Imaginando que fossemos casas, deixamos algumas pessoas entrarem só até nossa varanda. Lá elas são inofensivas, só conhecem nossa fachada e oferecemos um refresco para que elas se sintam à vontade e fiquem com uma boa impressão de nós. Ou não, podemos desejar que se afastem e não voltem mais, gritamos com elas logo na porta de entrada e as maltratamos, assim, não corremos o risco dela fazer parte de nossa vida nunca. Com um pouco mais de intimidade, se julgamos dignas de nossa confiança e isentas de maldade, deixamos que entre em nossa sala de visitas e se sente em nosso sofá. Assim ela pode conhecer melhor nosso interior, mas não tudo, apenas uma parte. E se ela continuar sendo digna então deixamos que entre em nossa cozinha, nos corredores e no lavabo. Que experimente nossa comida, que abra nossa geladeira, que passeie pelo quintal, que veja nossas roupas estendidas no varal, que sinta qual é o clima de toda nossa casa e de seus moradores. O maior grau de intimidade é atingido quando a pessoa adentra em nosso quarto de dormir, quando conhece onde é que repousamos, a cor de nossos lençóis e as estampas de nossas cortinas. Quando ela atingiu esse estágio fica dentro da gente, torna-se de casa pode dormir na casa da gente quando quiser. Em casos especiais damos até a chave pra ela entrar quando quiser. E se não der certo, temos que trocar a fechadura. Conheço a varanda de centenas de pessoas, assim como elas conhecem a minha, quase todas varandas delas são agradáveis, acho que a minha também é. Mas conheço poucas salas das pessoas e pouquíssimas conhecem a minha, menos ainda a minha cozinha e eu a delas. O meu quarto de dormir só conheceram aquelas que eu amei verdadeiramente. Viram a bagunça das minhas roupas, os livros que leio na cabeceira da cama, e sentiram o cheiro do meu travesseiro. Daquelas que conheci o quarto de dormir guardei na lembrança a foto de criança que elas tinham no porta-retrato.

BJOSDELUZ...(¨,)