terça-feira, 20 de outubro de 2009

Em terra de cegos...


Depois que li aquele livro “O corpo fala” descobri que tudo em mim quer me revelar, cada fala ou gesto tem sempre algum significado, não só em mim, mas em todos nós. O que essa obra ensina é treinar nossos olhos para reconhecer esses sinais que como diria Djavan “me confundem da cabeça aos pés, mas por dentro eu te devoro”. Porque tudo que está na superfície de qualquer ser humano é só uma referência, uma miragem. Quem vê cara não vê coração, é preciso de no mínimo dez encontros para se começar a ter idéia de quem é o outro. A primeira impressão pode ficar, mas ela se modifica. É transformada pelo cheiro, mas também pela cor da roupa, é alterada pelos tons da voz, pelos sorrisos, pelas mancadas ou pelos apoios. Todo ser humano é complexo demais para a gente achar que só com a primeira impressão já sabe tudo sobre ele. As pessoas mudam, por força do tempo ou por necessidade de se adaptar ao mundo que está eternamente se renovando. Mudam porque querem se sentir livres e ser surpreendidas por si mesmas. Nessa história de mudança não poderia deixar de citar Edson Marques e seu poema, uma ode a transformação: “Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.... aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias....Tente o novo todo o dia... Repito por pura alegria de viver : a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena !!!” É possível mudar e ainda sim conservar a mesma essência, aquela que nos mantém casados aos amores de nossas vidas ou então leais aos nossos amigos de sempre. A atitude deve mudar quando já não nos trás mais satisfação e o que se mantém é justamente as características que deram certo. Ninguém perde a própria identidade se um dia resolver ser uma pessoa melhor do que era antes. Irreconhecível fica quem prefere ficar como diria Raul Seixas em sua canção : "com aquela velha opinião formada sobre tudo." As pessoas vão falar e lembrar de você por aquilo que você tem de mais marcante. E se for algo positivo será melhor. Por isso nunca acredite somente nos seus olhos.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Movimento...


“... terminaram as palavras... as letras deixaram de existir... as frases já não podem ser formuladas e a comunicação escrita ou falada findou... o Homem deixou de dizer um simples vocábulo e nem um só ditongo se consegue escrever ou articular... mas a sua necessidade de gritar leva-o a inventar novas formas de comunicar... passa a usar o seu corpo para insinuar as sílabas e começar a juntar os elementos que formam a ideia, a imagem ou apenas o sentido... o seu corpo passa a ser a caneta ou a corda vocal... e as mãos tocam ali, acolá ou aqui... movem-se no espaço e sentem que do outro lado existem outras mãos que fazem o mesmo... e todos começam a gesticular... e do gesto, passam ao encontro, ao toque mútuo, ao abraço, ao enlace, à carícia, ao beijo, à ternura, a todo o género de ato que defina um desejo de comunicar, de dizer: estou aqui, está aí, podemos falar?... então trocam-se os toques e todos se movem no mesmo sentido... no Mundo existe o silêncio mas passou a existir o abraço... algo que o Homem já havia esquecido há muito... e apesar de o riso não ser articulado, existe o sorriso... e apesar do grito se ter silenciado a lágrima pode escorrer pela face e dessa forma se diz o que se passa, o que se sente, o que se deseja, o que se vê e o que se quer que seja entendido... o Homem calou a voz mas não consegue deixar de comunicar... e o seu corpo passa a ser o elemento base dessa ação... e, dessa forma, mesmo não podendo dizer que se ama, pode-se dizer o mesmo num sorriso, num beijo, num toque, num abraço, num desejo... e o Amor, por mais que o Homem possa perder as suas faculdades, jamais morrerá... e Amar, continuará a ser o único caminho!...”
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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A cada segundo...


Nas ruínas, é lá que você encontra, a ilusão desfeita, os sonhos despedaçados, os retratos quebrados e as separações. Porém é lá também que você descobre debaixo dos escombros, ainda respirando, com um fio de vida pulsando em seu peito, o recomeço, o renascimento e as ressurreições. Quem é esse que vos diz, que parece saber tudo, mas é apenas fachada. Quem é esse que parece ser feito de imaginação, mas na verdade não é feito de nada. Calcanhar de Aquiles, sombra de minha sombra, cedo ou tarde ele tomará conta de mim, me batizará com seu fogo e cegará meus olhos apodrecidos pela terra. E então serei uma fênix voando entre o céu e o solo e fazendo meu ninho na lua, flutuando alto, livre da matéria e da dor, alforriada do sofrimento e da carne, olharei para as pessoas como se os meus olhos fossem os mesmo olhos de Deus e os verei todos da mesma forma, com luzes e sombras fazendo os contornos de suas almas, crianças, nesse planeta eles são todos crianças, tão desprotegidos que se minimamente soubesse de sua fragilidade nem se levantariam de suas camas. A revolução da alma já está ocorrendo, ela não será anunciada por trombetas ou fanfarras, não serão necessárias grandes tragédias ou destruições, o grande julgamento final já está em curso a cada segundo.
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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Adeus Mercedes Sosa...


Quando alguém como Mercedes Sosa morre os anjos choram e cantam suas canções nas nuvens brancas que pastam mansamente nos céus. Em cada lágrima uma nota musical, em cada despedida uma canção de adeus e de gratidão. Lá no alto e no frio dos Andes um grande Condor pia de dor, La cantante se foi, o vento sopra sobre suas asas e ele, uma nobre ave, sob o céu estrelado também chora a perda de uma mulher tão grandiosa. Mercedes havia dito que continuaria cantando "até os últimos dias", como uma cigarra, agora que sua alma se desprendeu do corpo ainda se queda aqui o eco de sua voz cantando a liberdade, a luta e a vitória. Muito mais que uma artista popular latino americana, Mercedes foi uma grande mulher, da estirpe das guerreiras, como uma Joana D´arc das artes. Vai com Deus, tua voz em gravação permanecerá conosco como um canto ao sol e uma serenata a lua, assim como eco da sua existência, inspiradora, meu coração é musical e em suas batidas tu seguirás cantando: "Tantas veces me mataron, tantas veces me morí, sin embargo estoy aqui, resucitando. Gracias doy a la desgracia y a la mano con puñal, porque me mató tan mal, y seguí cantando. Cantando al sol, como la cigarra, después de un año bajo la tierra, igual que sobreviviente que vuelve de la guerra."

P. S. : Mercedes Sosa nasceu em Tucamán, Argentina, em 9 de julho de 1935. É uma cantora de grande apelo popular na América Latina e conhecida como La Negra pela cor das longas e lisas madeixas. Ganhou destaque muito nova, com quinze anos de idade, após se apresentar em uma competição de uma rádio da sua cidade natal e conseguiu um contrato de dois meses. O timbre marcante levou Mercedes a gravar o primeiro disco Canciones con Fundamento, em 1965, com um perfil de folk argentino. Mas foi em 1967 que se consagrou internacionalmente após gravar o sucesso Cantata Sudamericana e Mujeres Argentinas, com Ariel Ramirez e Feliz Luna. A música foi em homenagem à chinela Violeta Parra. Já atuou com diversos músicos, como Milton Nascimento, Fagner e Silvio Rodríguez. De personalidade marcante, Sosa é conhecida também como uma ativista política de esquerda, sendo peronista na juventude. Se posicionou contra à figura de carlos Menem e apoiou a eleição do ex-prediente Néstor Kirchner. Toda essa preocupação inclusive fica evidente em seu repertório, tornando-se uma das grandes expoentes da Nueva Canción, movimento musical nos anos 60, com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas. Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque são representantes. Possui um dueto com Beth Carvalho, cada uma cantando no seu idioma, na música So le piedo a Dios, além da parceria que fez com Fagner na música Años, de 1981.
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