segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A chuva que chovia...


Nenhum sonho é apenas um sonho, porque ao se sonhar o pensamento dá um salto para o futuro e o desejo, combustível dessa viagem toda, se lança na corrente sanguínea do sonhador. Sonhamos porque a vida real nos decepciona e por isso o inconsciente da gente precisa gritar. Alguns para fugir cometem exageros, ou bebem demais, ou dormem demais, ou são duros demais, os excessos são a fuga da ilha, no continente onde tudo é demais, não sobra tempo para descobrirmos nossa real condição. Somos iludidos pela ilusão que o que conversamos internamente com a nossa psique seja um segredo inviolável, tudo que fazemos e dizemos é uma revelação, as roupas que vestimos, a bagunça que deixamos no quarto, na nossa mesa, o silencio ou o excesso de fala. Para quem tem os olhos bem abertos não só para si, mas para o mundo, é fácil descobrir os segredos das pessoas. Na mesma pagina(da minha vida), mas começando outro capitulo começou a chover, forte e eu procurando abrigo, comecei a olhar para o céu admirando a chuva, os pingos bailando no céu ate atingirem o chão, vistos no reflexo da lâmpada de um poste...é incrível a coreografia, os pingos caindo em sintonia, o vento criando suas trajetórias, é como uma dança ficar olhando para eles de onde eu estava. Nem percebi que estava molhada, se pudesse ficaria nua na chuva...recitando um poema que gosto tanto do poeta Mário Chamie: “Não percebeu que percebia que a chuva que chovia não chovia na rua por onde andava. Era a chuva que trazia de dentro de sua casa; era a chuva que molhava o seu silêncio molhado na pedra que carregava. Um silêncio feito mina, explosivo sem palavra, quase um fio de conversa no seu nexo de rotina em cada esquina que dobrava. Fora de casa, seca na calçada, percebeu que percebia no auge de sua raiva que a chuva não mais chovia nas águas que imaginava.”
...(",)