quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Vértebra ou pálpebra...


“Memória!/Convoca aos salões do cérebro um renque inumerável de amadas./Verte o riso de pupila em pupila, veste a noite de núpcias passadas./De corpo a corpo verta a alegria esta noite ficará na História./Hoje executarei meus versos na flauta de minhas próprias vértebras.” (Vladimir Mayakovsky)

Eis minha estrofe de um milhão de dedos, vinte e três pensamentos e quarenta promessas. Meu batismo é com água, porem meu pecado é de fogo. Porque o pensamento é sujo, imundo e sórdido, precisa mesmo ser lavado, remido e limpo. Mas o coração fica lá, sempre puro, mesmo que triste, quebrado ou duro. Somos eternos filhos que choram e nossas mães não escutam. É por isso que o que nos sensibiliza também é o que nos endurece. A carne fica insistindo em querer ser carvão, mas é o espírito, com outra vibração, que é o diamante, lapidado, de longe parece até vidro quebrado, mas de perto se descobre a jóia que é, e de como ele é brilhante. Minha chave orgânica abre a porta da minha existência, entre esse e o outro mundo. Ao invés de morrer vou me misturando, me combinando e me dissolvendo nos outros. Eis minha pipa com rabiola feita de remorsos, papagaio sem linha. Esse meu ar atmosférico é cheio de alquimias, caminho pela nuvem para evitar as superfícies escorregadias. Porque se eu cair não sei qual parte de mim vai se quebrar, se a mole e frágil ou se a dura e robusta, se uma vértebra ou uma pálpebra.
...(",)