terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Você que me lê, que me ajude a nascer...


“Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida” (James Joyce em Retrato do Artista Quando Jovem)

Ao narrador só resta mesmo contar, descrever a trajetória do antes e a rota do depois por um caminho que tanto pode levar ao paraíso como pode dar em nada. O mundo da palavra é uma possibilidade infinita de aventura, ele entra dentro do personagem para revelar seus pensamentos, narrativa em terceira pessoa pode ser confundida como escudo, mas na verdade é espada. Ao retornar de sua viagem profunda Giovanna reencontrada olha para o mundo com olhos renovados. Seu olhar se expandiu e fundiu as correntes e derreteu as âncoras “Já não quero ser igual, pois tudo que há dentro do meu coração precisa ser mudado”. Giovanna estava morrendo do próprio veneno, intoxicada com seus pensamentos negativos, é incrível como o simples ato de pensar pode mesmo matar alguém “se é para viver que eu viva completamente, em qualquer canto desse mundo, em toda cidade, que eu possa até mesmo me dissolver em outras vidas, mas nunca perder minhas propriedades químicas e identidade.” Pescada viva da realidade, a vida desta personagem caminha sempre por vias oblíquas, bem próximas das relações verdadeiras e consolidadas, vive um constante enfrentamento ao mesmo tempo em que tenta escapar. O narrador, que é a pessoa lá de fora do dentro onde ela vive, é obrigado a ser neutro, a ser comum, a ser normal, mas Giovanna não, está livre porque não existe, ou melhor existe sim, mas só alguns olhos a vêem, ela só se revela aos mais sensíveis e loucos. Ainda que bicada pelas águias e picada pelas serpentes a infante esforçada rompe o caminho ignorado desde neném, nada a impedirá, não deterá sua marcha porque enquanto seu corpo enverga e envelhece sua alma se purifica e engrandece. Hoje subi mais um degrau em direção ao céu.
...(",)