quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Tanto quanto, ou mais...

Penso que seria mui vazio a vida sem vazios. Meus vazios me fertilizam tanto quanto me estancam. Ou mais. A falta pode levar à aquisição de um bem, como a grafite pode levar ao diamante, a concha à pérola, o sal ao mar. Minhas lacunas eu preencho continuamente com a força da possibilidade e da circunstância. Criar é improvisar tanto quanto planejar. Ou mais. O espaço que eu ocupo é o da tela em branco refletida no sonho em cromaqui, a partir do qual o azul leva a qualquer coisa que nele se projete em forma, conteúdo e ação. Será por isso que estamos, eu e a humanidade, em perpétua espera pelo novo? Será por isso que facilmente nos entendiamos, e inventamos novas formas para velhos conteúdos, tanto quanto novos conteúdos para velhas formas?
Penso que seria mais triste se eu nunca houvesse entristecido. Meus dramas me fecundam tanto quanto me esterilizam. Ou mais. A tristeza pode levar ao crescimento interior, como o aprendizado que se inicia com dor, a uma sólida alegria, como a natureza, a algum tipo de Deus. Minha melancolia eu alimento continuamente com a força das minhas imperfeições e autocríticas. Sofrer é se burilar tanto quanto se destruir. Ou mais. O espaço que a desgraça ocupa em mim é o da lágrima que se cristaliza na memória, a partir do qual a estrutura ocular faz refletir as emoções mais intensas. Será por isso que estamos, eu e a humanidade, em busca quase sempre de vibrantes emoções? Será por isso que rejeitamos com muita freqüência a atmosfera morna dos sentires, e inventamos amplitudes diferentes para uma mesma sensação, tanto quanto multiplicamos sensações de mesma amplitude?

Não sei, eu não sei. E esse não saber é que me inaugura...