terça-feira, 30 de março de 2010

Amai-vos...


É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste. É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nadaÉ difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre
(Cecília Meireles)

Meu barco mental por onde navegava o pensamento percebeu o movimento sobressaltado do coração ao atravessar a avenida Paulista que começa no Paraíso e termina na Consolação. Eu que já escapei ao vale da indecisão e do pântano dos erros numerosos agora buscava a vibração certa para não sofrer uma nova queda. Ah, o império da ilusão faz fervilhar em meu cérebro mil interrogações, porque será que segundo as ordens que nos regem não posso voar, não posso desaparecer e nem sorrir o tempo todo? Mas sou consolada desses processos de impossibilidades através de um vento carinho e um campo enluarado que se estende imaginariamente diante dos meus olhos pelo Anhangabaú. Quisera eu já poder fazer parte do grupo dos corações bem-amados.
...(",)

Qual o peso da minha concsciência...


A consciência é um estorvo, uma mosca zunindo, um cão latindo, não dá sossego nunca, fica lá falando em nossos pensamentos, apontando nossos erros, dedurando nossas mentiras. Quando quero ser cega, ela insiste em se transformar nos meus olhos. Se quero ficar em silêncio ela grita em meus ouvidos a plenos pulmões. Será que para ir para o céu preciso de tanta coisa assim? Sim, não cometa pecados e seja uma pessoa quase perfeita para merecer entrar no paraíso! Mas talvez isso só se for com permissão da guardiã da pureza, da sentinela da perfeição, a dita consciência. Então sorte de quem ainda a possui, porque lhe resta alguma chance de salvação. Quando ela fica pesada a gente perde o sono, pode ser porque prejudicou alguém em beneficio próprio num ato de egoísmo por exemplo. Daí tentamos calar a consciência pesada pensando em outros atos nobres nossos que possam neutralizar esse peso. Deve ser o que fazem os políticos corruptos quando se lembram de suas tramóias e corrupções, como se a parte podre de suas condutas pudesse ser equilibrada na balança com outros atos. Mas consciência pesada só se alivia com perdão. E a consciência limpa, branca, alva é como uma bandeira de vitória tremulando ao vento, o dono dessa consciência limpa fica leve, sente-se bem com o poder que tem nas mãos, afinal ele é capaz de viver a sua vida sem prejudicar a vida dos outros. É um ser humano que respeita os outros seres humanos e que sabe os limites de suas liberdades. Ajuda a si mesmo e ainda consegue ajudar aos outros. Não é perfeito, porque comete seus erros, porém suas falhas terminam por prejudicar apenas a si mesmo. Enfim a consciência é binomial, dentro dela não há divisão entre o bem e o mal, ou é absolvição ou condenação, confiança ou arrependimento, certeza ou dúvida, leveza ou peso.
...(",)

Fatalidade...


Antes da paz, os riscos, o salto de um muro para o outro ou correndo pelas estradas de terra e pelas de asfalto, antes da paz o tombo, queda livre, o tempo correndo sem parar. Antes do final nossa história é escrita com lágrimas, sangue e suor. Ninguém fica ileso, ninguém está imune, viver é se ferir, se contaminar, com os dramas, com as comédias, viver é respirar mesmo quando falta ar. Antes da paz a gente sofre sem parar e não adianta fugir, mas talvez adiante chorar, antes da paz a gente quebra a cara, o braço, porque ninguém vive em paz se não estiver morto, estar vivo é estar em todos os momentos sendo incomodado, amolado, apoquentado pelo destino, as curvas do caminho, as esquinas por onde andamos. Seria fatal se me calasse e nunca mais escrevesse, quem ia morrer seria eu, talvez não toda, mas só o fato de ter uma parte morta o dano já teria sido irreversível pra mim, dona de uma vida torta. Incompleta. Seria fatal se continuasse sendo aquela no meio da multidão, anônima, despercebida, aquela que nunca disse nada, que nunca fez nada acreditando que poderia mudar o mundo as pessoas e a si mesma. Seria fatal se nunca me tornasse quem sou, da escrita... e amasse, se eu não fosse essa confusão de pessoas, lugares e de tempos, se eu não fosse uma pitanga que nasceu em um pé de amora. Seria fatal se eu não estivesse vivendo aqui e agora.
...(",)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Eu não estou lá...


Não importa aonde estásEu mesmo, aqui, te beijarei em meus sonhosMeu sangue arderá por tiAté que eu me perca pelo teu corpo. ( Da canção “Un dia normal” de Juanes , um cantor Colombiano)

A luz dessa manhã sussurrou no meu ouvido “você ainda tem muito que aprender”. Ontem a noite uivava para a lua azul como uma Loba, mas hoje apenas quero ouvir as vozes que vem lá da montanha, porque para isso tenho um túnel no meu travesseiro. Fiquei brincando de pensar, quem de nós vai acordar primeiro? Quem de nós vai chorar, sorrir, viver, morrer, vencer, perder, subir, descer, primeiro? Queria que fosse nenhum dos dois. Eu perdi o resto da noite, peguei no sono em cima do balcão, sou viciada na vida, em conhecer as pessoas e principalmente que elas me conheçam, porque quanto mais isso acontece mais descubro que gosto de mim. Mas nessa noite eu não conheci ninguém. Acordei cutucada pelo Bar Man, de volta pra casa peguei um táxi, mas preferia que tivesse sido um trem que me levasse para outra galáxia, para outra dimensão. Tô morrendo sim, mas é de saudades de mim. Fui com a poesia no olhar e com um pouco de perfume nas têmporas e pulsos, e com a Laura Pausini no pensamento, eu tenho sim muitas coisas que me igualam a todas os mulheres do mundo, mas uma , só uma que me diferencia. Mas agora não há mais tempo pra explicar, tenho que pegar a estrada, lá fora faz um tempo confortável e uma viagem sem destino tornará o poeta ainda mais poeta. Ele não estava lá e acho que eu também não estava lá, aliás, talvez eu nunca tenha estado em lugar nenhum e ele também não.
...(",)

domingo, 21 de março de 2010

São dois prá lá, dois prá cá...


"De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?” (Adélia Prado- do poema “A serenata”)

O céu desabou e o mundo dele caiu, só lhe resta dançar sobre os escombros. Todo ser humano é vaidoso demais da conta, os cabelos dele estão ficando brancos, ele já não tem o mesmo fôlego e nem a mesma disposição, a juventude já não é como a de garoto, então só lhe resta se adaptar a nova situação, dançar no meio do salão mais devagar que os outros que também dançam, mais ainda assim permanecer dançando. Ele já tem sua sentença decretada desde que nasceu, só não sabe quando e onde vai morrer e por isso tem dias que a vida fica sem sentido, outros em que se sente sozinho mesmo acompanhado. A sua volta todos são passageiros que não sabem seu destino, mas mesmo assim ele dança sozinho na estação a espera do trem. Suas feras interiores vivem querendo se alimentar de sua carne, vive um embate silencioso com seus demônios internos, luta contra si mesmo, contra suas angustias, desesperanças e isso provoca uma tensão constante nele, ele grita, mas todos parecem estar surdos, sorte que a paciência dele é oceânica, por isso ele dança a beira mar com as ondas de vez em quando batendo em suas pernas e as espumas cobrindo seus pés. Ela diz a verdade, ela mente às vezes, é bipolar como ele, é um jogo de espelhos, calma no zodíaco, mas tigresa na cama, ela tem medo de trovão e de relâmpagos, ele não, por isso quando a chuva vem ela se esconde na claridade, mas ele fica lá e permanece dançando na tempestade. O amor é um jogo e a vida é uma dança, são dois pra lá, dois pra cá.
...(",)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Amargo da língua...


Estou me vendo como uma pedra que não pensa, mas que chora por estar no meio do caminho, me vejo como um sol que morreu e que esfria a cada segundo. Olho pra mim e enxergo uma janela rasgando a parede, que se abre para o dia e que mostra para o cativo de si mesma que a liberdade está apenas a um passo seu. Enxergo-me como uma luz, um clarão que rompe a noite que parecia eterna sobre a cabana. Quando sou feita de carne sou grama esparramada pelo chão, a mesma grama onde me deito com ele, e onde hoje é nosso leito e amanhã será nosso túmulo, sou água da fonte sorrindo porque sabe que será rio e que um dia matará a sede. Sou passarinho que voa desafiando as gravidades, que usa suas asas como reza ou poesia, que do alto contempla os homens perdidos em seu gozo e em toda sua agonia. Quando sou feita de palavras, quando sou feita de pensamentos ou mesmo de ar, a minha alma é uma fotografia, um mosaico de imagens e de poeira, sou essa hora de dor em que sou santa, e esses momentos de prazer em que sou pecadora, sou uma boca que beija como quem morde porque no canto dos lábios tem doce e um segredo calado no amargo da língua.
...(",)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Ponto de fuga...


Não, eu não quero prazer ! Eu quero alegria ! (Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera)
Luto por uma paz que ainda não foi minha, vivo numa ilha que parece tão sozinha, mas que na verdade fica num imenso arquipélago chamado planeta terra. Lugar de quem respira, mas também de quem erra. Eu sou da constelação de Andrômeda ele é de Orion, nosso amor era impossível até nos encontrarmos aqui nessa dimensão. Prazer, oh sim, como sei dar prazer através do meu corpo. Mas alegria algo tão sutil, leve e elevado, porque vem da alma, de um espírito lavado, ainda não consegui atingir plenamente. Orgasmos sim, mas felicidade ainda não. Porém creio que os dois possam estar no mesmo pacote, como uma divina combinação. Vindos assim de tão longe, ele tem uma boca cósmica, capaz de engolir luas inteiras, eu olhos de furacão com pálpebras de raios e iris de trovão posso ver além do alcance e fora dos limites da visão. Na verdade posso ver os pensamentos dele. Essa noite nos encontraremos num ponto de fuga, porque temos, os dois, o poder de atravessar o espelho sem quebrar o vidro.
...(",)

terça-feira, 9 de março de 2010

quem eu realmente sou...


Vai, e leva só o que couber no peito pra guardar/O resto a gente usou brincando de querer/Girando um no outro sem crescer/Criando os nossos próprios temporais.
(Bruna Caran - Cantora paulistana)

Não sou pela identidade, mas pelo o que carrego no peito.Tem dias que o destino, menina travessa brincando com meus sonhos, me abala de abismo, mas logo nasce a esperança soberana na minha alma e me enleva em asas. A tristeza, ardilosa, vive se fantasiando de alegrias efêmeras pra tomar o poder da minha vida, se infiltra em fugas, em vícios, tenta me enganar o tempo todo, mas sempre falha em sua missão impossível em me transformar numa mulher triste e derrotada. Nós seres humanos não somos lá grande coisa, traímos, somos corruptos e egoístas, mas por outro lado somos fiéis, honestos e solidários. No final das contas, talvez somando todos nós, nossas virtudes e comparando com nossas maldades o saldo deve ser positivo. Dever ser por isso que fomos escolhidos pela natureza. A certeza da minha impermanência, porque a morte chegará sem aviso, trouxe pra mim a certeza que até minha respiração é improviso. Meu sangue ferve e corre pelas veias, mas sem nunca deixar de pensar...(",)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Como vc avalia tua vida até agora...?


Eu fico me perguntando por que, normalmente, temos que chegar até o fundo do poço para criar uma grande mudança em nossas vidas. Enquanto tudo está dentro da nossa zona de conforto, enquanto nosso castelo de cartas está de pé, é raro nos questionarmos se estamos no caminho certo para nossa evolução espiritual. Sem nenhum aspecto religioso, acredito que estamos neste mundo para evoluir, reconhecer que fazemos parte da mesma essência, trabalhar em time de forma cooperativa e utilizar os avanços da humanidade em prol da raça humana e da sustentabilidade do planeta. Afinal, estamos todos nesta nave espacial chamada Planeta Terra. Mas, parece que é mais fácil tapar o sol com a peneira do que desenvolver habilidades para enfrentar nosso egoísmo, medos e limitações para nos tornarmos pessoas melhores. Realmente, tornar-se uma pessoa melhor dá trabalho! Precisamos desenvolver compaixão, ter responsabilidade pelas nossas escolhas e pela nossa vida e estar a serviço dos outros seres sem tentar se aproveitar com segundas intenções. Mas o caminho para chegar lá é uma experiência tão maravilhosa que conseguimos viver nossas vidas com plenitude e autenticidade. Provavelmente foi isso que Gandhi quis dizer com: "não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o próprio caminho". Você precisa ser feliz neste exato momento, aqui e agora! O resto é uma ilusão. Se você unir a sabedoria para um desenvolvimento espiritual com o que já está fazendo no mundo para criar riqueza material terá grandes chances de ser uma pessoa extremamente feliz e plena na vida. Afinal, o que você está esperando para começar a construir esse caminho? Tenho conversado com pessoas de várias idades e de várias classes sociais sobre isto e a resposta é uníssona: "Não é a hora de buscar isto!": sou jovem demais, velho demais, preciso gerar dinheiro para sobreviver, tenho um filho para cuidar, tenho uma mãe que depende de mim, meus netos acabaram de nascer, a empresa é minha vida, meu trabalho consome todo meu tempo, não tenho saúde, estou me sentindo bem do jeito que está etc.


Grande abraço e uma ótima semana! ...(",)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Não pertenço mais a esse lugar...


"Não tenho certeza de nada, a não ser da santidade dos afetos do coração e da verdade da imaginação – o que a imaginação capta como beleza deve ser verdade – tenha ou não existido antes.” John Keates, poeta romântico inglês.

Não creio que palavra alguma possa explicar a vida de um homem ou uma mulher, mas essa frase, por ser um sentimento comum a todos nós, é uma poderosa sensação elucidativa: "O que eu fiz para merecer isso?" é a pergunta que todo mundo sempre se faz em períodos de provação, de dificuldades e de indefinição. Dá vontade de desistir e dizer pra si mesmo: Quem sabe hoje eu consiga descansar numa nuvem. Talvez seja uma necessidade de ir para o céu sem participar da morte. Mas para qual céu eu iria? Já que o primeiro é para os pássaros, o segundo para as pessoas que conseguem voar além da imaginação e o terceiro onde habitam Deus e os Anjos. A fé fica gritando aos meus ouvidos "Por favor aceite o mistério" enquanto a razão não hesita em dizer numa voz firme dentro da minha cabeça: “Primeiro pense, depois exista”. Se ao menos eu tivesse certeza se o pior momento da minha vida já passou. Não sou uma só por isso, isso aqui não é um monólogo, há varias identidades e entidades comigo. É tão difícil viver aqui embaixo enganada por essas simulações de felicidade, os shoppings e as perfeições das coisas novas que compramos que criam a ilusão de redomas sobre a gente. Agora entendo porque a morte no oriente não é considerada algo tão ruim. Estar viva talvez seja o verdadeiro motivo de luto. Sei que o que vem agora vai parecer contraditório com que eu disse anteriormente. Mas amo a vida e quero vivê-la até o último segundo, porém a consciência das ilusões, utopias e fórmulas usadas para nos transformar em zumbis muitas vezes torna minha existência uma operação sem anestesia. Eu não pertenço mais a esse lugar, essa é a percepção, nesta fase de minha vida não anseio mais tanto por uma vida de sensações, mas por uma vida de pensamentos.
...(",)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Que não nasceu...


Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.( Friedrich Nietzsche)

Basta a gente viver um pouquinho, prestando atenção, que percebe que a vida de ninguém é perfeita, aqueles que têm dinheiro não tem amor e aqueles que tem amor não tem dinheiro. Aqueles que tem uma boa carreira não tem tempo e aqueles que tem tempo não tem uma boa carreira. Haverá aqueles que são exceção, tem tudo isso que eu disse, mas ainda assim faltará alguma coisa. Porque somos seres naturalmente incompletos. E é justamente essa imperfeição que nos move para alguma direção, para sobreviver encontramos nosso lugar no mundo, tempos uma profissão e criamos nossas famílias. Daí no fim alguns caminhos, vidas, terminam num jardim e já outros num abismo. E se eu estiver algum dia diante deste penhasco sei que as minhas asas vão me salvar. É um(a) filho(a) que muitas vezes nos resgata de uma tragédia. Aquele que ainda não nasceu espera para vir, ele tem o direito de nascer e eu ainda acredito que posso vencer em mim aquilo que costumam chamar de “O lado cego”.
...(",)