domingo, 21 de março de 2010

São dois prá lá, dois prá cá...


"De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?” (Adélia Prado- do poema “A serenata”)

O céu desabou e o mundo dele caiu, só lhe resta dançar sobre os escombros. Todo ser humano é vaidoso demais da conta, os cabelos dele estão ficando brancos, ele já não tem o mesmo fôlego e nem a mesma disposição, a juventude já não é como a de garoto, então só lhe resta se adaptar a nova situação, dançar no meio do salão mais devagar que os outros que também dançam, mais ainda assim permanecer dançando. Ele já tem sua sentença decretada desde que nasceu, só não sabe quando e onde vai morrer e por isso tem dias que a vida fica sem sentido, outros em que se sente sozinho mesmo acompanhado. A sua volta todos são passageiros que não sabem seu destino, mas mesmo assim ele dança sozinho na estação a espera do trem. Suas feras interiores vivem querendo se alimentar de sua carne, vive um embate silencioso com seus demônios internos, luta contra si mesmo, contra suas angustias, desesperanças e isso provoca uma tensão constante nele, ele grita, mas todos parecem estar surdos, sorte que a paciência dele é oceânica, por isso ele dança a beira mar com as ondas de vez em quando batendo em suas pernas e as espumas cobrindo seus pés. Ela diz a verdade, ela mente às vezes, é bipolar como ele, é um jogo de espelhos, calma no zodíaco, mas tigresa na cama, ela tem medo de trovão e de relâmpagos, ele não, por isso quando a chuva vem ela se esconde na claridade, mas ele fica lá e permanece dançando na tempestade. O amor é um jogo e a vida é uma dança, são dois pra lá, dois pra cá.
...(",)