sábado, 17 de novembro de 2007

Quando será que eu vou crescer..?


Queria saber andar de salto agulha, 10cm pelo menos e equilibrar perfeitamente meus 1,68m, com graça e desenvoltura em cima de todos aqueles centímetros de sapato, sem me sentir uma girafa. Queria gostar de um vinho que custasse 1000 dólares a rolha, ao invés de preferir um demi sec, um malbec ou um shiraz alguns zeros mais baratos e em moeda nacional. Queria me apaixonar por um homem, só porque ele é gente boa e gosta de mim, ao invés de ficar buscando paixões desenfreadas e sinos tocando nos olhares dos desconhecidos. Queria ter lido O Mundo de Sofia, ao invés de usá-lo como apoio para xícaras de chá, consumidas em horas a fio diante do computador. Queria entender mais de política ao invés de fazer aquele olhar embasbacado cada vez que ouço sobre uma falcatrua dos nossos governantes. Queria torcer o nariz para música ruim, para novela mexicana e para arte moderna, ao invés de sempre achar o lado bom dessas coisas. Queria ser inteligente suficiente para agir com a cabeça e não com o coração, sabendo tirar proveito das situações e usando-as em meu benefício. Queria ter aprendido a patinar no gelo, sem ter de me preocupar em não quebrar nenhum osso. Queria ter aprendido receitas, que só algumas pessoas sabiam e hoje não estão mais entre nós, para poder sentir novamente o sabor e o aroma inconfundíveis, que estão tão vivos dentro de mim. Queria ter mais medo da morte e mais amor a vida, achando que essa é a última oportunidade e não apenas uma passagem. Queria me exercitar mais, achando graça em academias, ou em praticar algum esporte, ao invés de preferir cinema e teatro...isto quando vou. Queria gostar de comida saudável, sanduíches naturais e carne branca, ao invés de preferir batata frita. Queria gostar menos de sentir o vento batendo no rosto, os cabelos embaraçando, o suor descendo e o cheiro de estrada nas narinas. Queria saber nadar, ao invés de gritar toda vez que a onda bate acima do meu joelho. E queria colocar a cabeça dentro d’agua na piscina e subir na bóia sem ter medo dela virar.
Finalmente: Queria ser um pouco mais adulta e mais velha. Para que fosse mais sábia e menos criança. Para que me contentasse com menos e não sonhasse tanto. Para que admitisse com mais facilidade ouvir os “nãos” da vida. Para que parasse de buscar coisas que só eu acredito. Para que não sofresse tanto com aquilo que não posso mudar. Quando será que eu vou crescer?.