(Dizem, todos os blogs da internet que possuem essa citação, que esse fragmento é da Clarice Lispector)
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Se você não me conhece eu vou logo te dizer. Que não sou do tipo de pessoa que precisa ver alguém em pior condição do que a minha para me sentir bem. Dizem, para nos fazer sentir melhor, frases do tipo: “Se você reclama da sua vida então olhe pra vida de fulano”. Eu tenho em meu DNA algo que me faz sofrer e que ao mesmo tempo me faz sentir orgulho de mim mesma. Eu me coloco no lugar das pessoas e ao invés de sentir pena delas para me sentir bem eu procuro entendê-las e de alguma maneira ajudá-las. Embora haja bastante verdade numa comparação do tipo :“os seus problemas não são nada perto do que realmente sofrem algumas pessoas mundo afora.” Luto para valorizar quem sou sem precisar recorrer a dó. Dito tudo isso chegamos ao filme “Preciosa”, certamente um dos mais tristes e reais que já assisti em toda a minha vida. É uma adaptação de "Push", relato das experiências da poetisa americana Sapphire, pseudônimo de Ramona Lofton, ela mesma uma escritora afro-americana bissexual, assistente social e educadora em áreas de extrema pobreza e violência em Nova York. Aliás nos lugares de Nova York onde nós de terceiro mundo nem imaginamos que seria possível existir numa cidade de primeiro mundo tão idolatrada e tida como um lugar perfeito. A escritora escolheu este titulo para o livro , do qual o filme foi adaptado, porque “push” (força em inglês) é freqüentemente associada ao despertar e ao crescimento: ela fortalece seu corpo, abre portas, é gritada no momento do parto. ‘Força!’ é um comando, mas é algo que ninguém pode fazer por você. A personagem que dá título ao filme é Claireece Preciosa Jones, é obesa, negra, mora no Harlem de Nova York durante os anos 80 e sofre com tudo isso e por muitos outros motivos que ela nem sabe por quê. Como muitas coisas na vida o nome do meio dela é a grande ironia, Preciosa.Porque ela é humilhada por sua mãe, sofre abusos físicos e verbais dela, é tratada como uma empregada e é constantemente violentada pelo pai. E engravida dele duas vezes...seus filhos são filhos também de seu próprio pai.
E diante de tanta tristeza seus únicos momentos de prazer são seus pequenos devaneios, geralmente sonhando com a possibilidade de ser feliz, bonita e admirada.Seus sonhos me fizeram lembrar um pouco de “Amelie Poulain”.
Expulsa da escola por estar grávida de uma segunda criança aos 16 anos é integrada a uma escola alternativa de jovens adultos problemáticos, destinada aos alunos que não se enquadram “Os desencaixados. Os rebeldes. Os criadores de problemas. As peças redondas nos buracos quadrados.” E lá ela conhece uma professora que começa a mudar sua vida. “Preciosa” revela toda sujeira escondida debaixo do tapete, o que nos faz lembrar que em qualquer lugar, qualquer casa e qualquer lar isso existe. Mas a maioria de nós escolhe silenciar e fingir que está tudo bem. No filme, Preciosa aprende a colocar pra fora o que sente num diário e isso faz toda diferença para que ela se reconheça e que alcance sua redenção e seu renascimento. Preciosa é um estandarte, um símbolo que representa qualquer um, eu, você aquela mulher que parece feliz por ser bonita e rica, mas tem uma vida psicológica miserável. Enfim a todos nós algum dia já fomos ou nos sentimos discriminados ou subestimados. Eles nos escutam, nos protegem e nos vêem todos iguais porque seus olhos não são feitos de carne, eles são anjos cegos...(",)