sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Meu lado fatal...


“Exagerada toda a vida: minhas paixões são ardentes; minhas dores de cotovelo, de querer morrer; louca do tipo desvairada; briguenta de tô de mal pra sempre; durmo treze horas seguidas; meus amigos são semi-irmãos; meus amores são sempre eternos e meus dramas, mexicanos.”
(Dizem, todos os blogs da internet que possuem essa citação, que esse fragmento é da Clarice Lispector)

Deve ser ali da jugular, do sangue que irriga meu nó na garganta, que vem e que vai, deve ser do lado direito do cérebro aquele da criatividade e que só se sensibiliza com informações novas e estranhas. Deve ser do meu lado fatal. Não aquele que mata ou morre, mas aquele que esmaga e escorre. O tempo é uma brincadeira de Deus com nós eternas crianças de luz. Por isso escrever é prolongar o tempo, é fazer de lágrima mar e da respiração vento, ás vezes não sou clara, mas nem por isso sou escuridão, só não acho que tudo tem que ser assim explicadinho, é preciso dar margem, não para a duvida, mas para a interpretação. Deve ter inspiração desse fragmento de verso de Manuel Bandeira (Testamento): (Mas trago dentro do peito/Meu filho que não nasceu) cheio de significados só esperando para serem vestidos pela consciência alheia, pelo entendimento de quem leu.
...(",)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Novamente a primeira vez...


Ama-me por amor do amor somente.Não digas: "Amo-a pelo seu olhar,O seu sorriso, o modo de falarHonesto e brando. Amo-a porque se sente
(Elizabeth Barrett Browning – Poetisa inglesa)

Tudo tem o seu tempo determinado porque o tempo também precisa de tempo, porque o tempo não gosta de ser apressado, e o que perdi pelo caminho, a inocência, a agilidade; me perdi tanto de mim, me encontrei e me perdi de novo, o que ganhei pela vida, amor, inteligência, sabedoria. Tanto arrependimento, mas também tanta satisfação, essa faca de dois gumes cortando meu coração, essa montanha de dois cumes que escalo e escorrego todos os dias. Vale a pena pelo sim, não vale pelo não, quero experimentar a vida como se estivesse descobrindo tudo de novo, uma velha aprendiz colecionadora de experiências. Muita gente veio, muitas já se foram, quase todas já devem ter se esquecido de mim, mas não faz mal, elas vão velar o corpo do que já morreu. Aquele que me diminui, que me entristece e que me torna infeliz eu suicido. Mas aquele que me acrescenta ,divide e multiplica, eu ressuscito. Por isso tenho tanto medo desse meu lado fatal.
...(",)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O que tempo que ainda nos resta...


Um nó foi se formando, primeiro na garganta, depois no estomago até se espalhar pelas vísceras, meu sistema nervoso é o responsável pela minha infelicidade. Ele vai ficando “inflamado” à medida que acho que alguém age de uma maneira que não gosto ou quando não gosto de alguma coisa que acontece. Coisas que não desejo acontecem e crio uma tensão interior. Coisas que quero não acontecem, algumas pedras aparecem no meio do caminho, e novamente crio essa tensão interior; começo a atar “esses"nós" internos. E, pela vida afora, pelo meu caminhar, coisas indesejadas continuam a acontecer e as desejadas podem ou não acontecer, e este processo de reação, de atar nós faz toda a estrutura física e mental tão tensas, tão cheias de negatividade, que a vida torna-se um sofrimento. Minha tarefa hercúlea tem sido desatar esses nós. Tornar mais leve o ato que é viver. O tempo que ainda nos resta deve ser usado não para se lamentar, mas para corrigir. Já não me basta mais abrir os olhos e ver para fora, agora preciso olhar para dentro, usar com sabedoria aquilo que chamam no oriente de visão interior.
...(",)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Anjos cegos...


Se eu fosse uma gari varreria toda a sujeira da minha rua (mas deixaria as folhas caídas das arvores), se eu fosse uma aviadora voaria através das nuvens até a lua, se eu fosse uma cantora cantaria a mais bela canção para encher de música a sua salvação. E se eu fosse uma engenheira construiria uma ponte para te tirar dessa ilha de solidão. Se eu fosse uma empresária a minha empresa daria lucro, mas também daria esperança. Se eu fosse médica cuidaria dos pacientes como se eles fossem meus próprios filhos e se eu fosse juiza não deixaria nenhum crime sem sentença. E se eu fosse escritora ligaria, através de minhas palavras, a mente ao coração, o corpo a alma. E eu sou, eu posso. Se você viver cem anos quero viver cem anos menos um dia, não quero chorar a sua morte e se você chorar a minha lembre-se que meus dias foram como versos, meus meses como estrofes, meus anos como livros e a minha vida toda como se fosse uma poesia. Por isso vamos viver intensamente o tempo que ainda nos resta.
...(",)

"Toda folha de grama tem seu Anjo que se curva sobre ela e sussurra: 'Cresce, cresce” (trecho do "Talmude", um dos livros sagrados do judaísmo).

Se você não me conhece eu vou logo te dizer. Que não sou do tipo de pessoa que precisa ver alguém em pior condição do que a minha para me sentir bem. Dizem, para nos fazer sentir melhor, frases do tipo: “Se você reclama da sua vida então olhe pra vida de fulano”. Eu tenho em meu DNA algo que me faz sofrer e que ao mesmo tempo me faz sentir orgulho de mim mesma. Eu me coloco no lugar das pessoas e ao invés de sentir pena delas para me sentir bem eu procuro entendê-las e de alguma maneira ajudá-las. Embora haja bastante verdade numa comparação do tipo :“os seus problemas não são nada perto do que realmente sofrem algumas pessoas mundo afora.” Luto para valorizar quem sou sem precisar recorrer a dó. Dito tudo isso chegamos ao filme “Preciosa”, certamente um dos mais tristes e reais que já assisti em toda a minha vida. É uma adaptação de "Push", relato das experiências da poetisa americana Sapphire, pseudônimo de Ramona Lofton, ela mesma uma escritora afro-americana bissexual, assistente social e educadora em áreas de extrema pobreza e violência em Nova York. Aliás nos lugares de Nova York onde nós de terceiro mundo nem imaginamos que seria possível existir numa cidade de primeiro mundo tão idolatrada e tida como um lugar perfeito. A escritora escolheu este titulo para o livro , do qual o filme foi adaptado, porque “push” (força em inglês) é freqüentemente associada ao despertar e ao crescimento: ela fortalece seu corpo, abre portas, é gritada no momento do parto. ‘Força!’ é um comando, mas é algo que ninguém pode fazer por você. A personagem que dá título ao filme é Claireece Preciosa Jones, é obesa, negra, mora no Harlem de Nova York durante os anos 80 e sofre com tudo isso e por muitos outros motivos que ela nem sabe por quê. Como muitas coisas na vida o nome do meio dela é a grande ironia, Preciosa.Porque ela é humilhada por sua mãe, sofre abusos físicos e verbais dela, é tratada como uma empregada e é constantemente violentada pelo pai. E engravida dele duas vezes...seus filhos são filhos também de seu próprio pai.
E diante de tanta tristeza seus únicos momentos de prazer são seus pequenos devaneios, geralmente sonhando com a possibilidade de ser feliz, bonita e admirada.Seus sonhos me fizeram lembrar um pouco de “Amelie Poulain”.
Expulsa da escola por estar grávida de uma segunda criança aos 16 anos é integrada a uma escola alternativa de jovens adultos problemáticos, destinada aos alunos que não se enquadram “Os desencaixados. Os rebeldes. Os criadores de problemas. As peças redondas nos buracos quadrados.” E lá ela conhece uma professora que começa a mudar sua vida. “Preciosa” revela toda sujeira escondida debaixo do tapete, o que nos faz lembrar que em qualquer lugar, qualquer casa e qualquer lar isso existe. Mas a maioria de nós escolhe silenciar e fingir que está tudo bem. No filme, Preciosa aprende a colocar pra fora o que sente num diário e isso faz toda diferença para que ela se reconheça e que alcance sua redenção e seu renascimento. Preciosa é um estandarte, um símbolo que representa qualquer um, eu, você aquela mulher que parece feliz por ser bonita e rica, mas tem uma vida psicológica miserável. Enfim a todos nós algum dia já fomos ou nos sentimos discriminados ou subestimados. Eles nos escutam, nos protegem e nos vêem todos iguais porque seus olhos não são feitos de carne, eles são anjos cegos...(",)




sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Nos encontramos de novo...


Um encontro como se fosse um parêntesis na vida, (nos encontramos de novo), o que escrevi o fez me amar de longe e a existência dele ao meio-dia varreu toda possibilidade de sombras sobre mim. Sou uma espécie de reflexo seu no espelho, da parte difícil, porém doce, da versão desesperada, entretanto que encontra calma na auto-analise e na reflexão. Eu sou o vento que sopra a seu favor. Nós somos muito diferentes um do outro. Eu sou a rainha de Sabá e ele o rei Salomão. Eu as águas de março e ele a fogueira de São João. Mas por trás deste mundo todo de aparências e diferenças tantas, existe uma atração preservada das traças da ferrugem e da maresia. As minhas cicatrizes se combinam tanto com as dele. Este é o meu corpo escrevendo, a cada dia mais lento, envelhecendo, descendo a ladeira, de cabeça erguida, mas dor nas costas, peso nos ombros. Eu jamais direi algo sem olhar em seus olhos, pois esse é o preço da pureza.
...(",)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A salvação é pelo risco...


É fácil apagar as pegadas; difícil, porém, é caminhar sem pisar o chão. (Lao-Tsé – Filósofo e alquimista chinês)

Agora é a hora de sair da cápsula se você ousar, já que tem uma nação só sua então porque não criar um planeta inteiro e chamar outra pessoa para junto contigo nele morar? Daí eu te revelaria os vários pactos silenciosos que tenho dentro de mim, um entre a surrada calça jeans e a camiseta, aquela entre os meus olhos de de pau-brasil e os dele de mogno ou entre aquela eu que é legal, mas que não existe e aquele outro que sorri de um jeito triste. Procrastinadora, isso é que eu tenho sido, que é aquela que deixa tudo para fazer mais tarde, sinônimo de empurrando com a barriga, ou seja, deixar pra amanhã o que você não está a fim de fazer hoje. Doce engano, amargo resultado. Ah.. esse esboço que não vira desenho, esse rascunho que não se torna original, esse rabisco de castelo sem reino, tudo parecendo o tempo todo treino, esse porto inseguro, esse bagulho, esse negocio, esse troço, parece lamento, mas é pensamento feito com as entranhas de mulher que chora. Daí dá nisso. Acontece, aconteceu comigo que ando colhendo pitanga em pé de amora.
...(",)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Capitã da minha alma...


“Não importa quão estreito o portão/Nem quão pesado os ensinamentos/Eu sou o mestre do meu destino/Eu sou o capitão da minha alma” (Do poema “Invictus” de William Ernest Henley, poeta inglês)
Eu não sabia muito bem quem ele era, mas somos parecidos e por isso preenchi o que não sabia da história dele com pedaços de mim. Na verdade não importa muito a identidade, mas o conteúdo. As minhas possibilidades de ser feliz a cada dia se renovam, descubro um cheiro novo, um mistério, uma nuance da minha personalidade, da minha psique onde estão minhas fraquezas e também todas as minhas forças. Imagino-me como um país, uma nação onde seu povo sou eu mesma e com o passar do tempo, após a descoberta (meu nascimento), veio à colonização (minha educação), e aí o grito de independência, os períodos de ditadura e guerras até chegar ao tempo da democratização. É isso que vivo atualmente, o processo de democratização da minha existência, um estágio avançado da minha civilização onde hoje eu sou a capitã da minha alma. E esse processo de amadurecimento me amedronta e me martiriza, tenho que buscar inspiração e entusiasmos na experiência que já tenho, pedir conselhos as árvores antigas do meu jardim do conhecimento pra chegar a alguma conclusão e daí sim seguir o caminho. A salvação é pelo risco.
...(",)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A pergunta de seus olhos...


"Já era a hora em que o desejo volta aos navegantes, e seu coração é enternecido pela lembrança do dia em que disseram adeus a seus doces amigos; é também a hora que fere de amor o novo viajante, se ele ouve de longe um sino que parece chorar o dia que está morrendo." (A Divina comédia - Purgatório, 8, 1-6, Dante Alighieri)


Tem gente que pergunta uma coisa com a boca e outra com o olhar, é da natureza humana ser assim, um ser cheio de contradições, porque o que há dentro de nós permanece mistério enquanto não nos enfrentarmos de fato. Muita coisa do que acontece do lado de fora é resultado do lado de dentro. A traição daqueles que nos amam pode ser o resultado da deslealdade consigo. Tem muita coisa que tentamos esconder de nós mesmos e nos reprimimos e traímos a nossa própria consciência. Somos vulneráveis por aquilo que não queremos ver. As lamentações são uma forma de exprimir nossa dor com a concretude dessa vida, porque todos nós temos feridas na alma. Se você estudar a história de muitos daqueles que tiveram um grande sucesso descobrirá que eles encontraram sua força em sua maior fraqueza. Em outras palavras ser forte é com todas as forças lutar contra a dor ou qualquer coisa que amargue a nossa existência. O que se levará dessa vida? Enquanto o sol se põe e a noite me abraça, menos um dia, escrevo com os olhos meio marejados uma frase que acho que é de Lord Byron (poeta romântico inglês): “Os espinhos que me feriram foram produzidos pelo arbusto que plantei.”
...(",)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O coração de um mundo sem coração...


"Eu entendo a noite como um oceano que banha de sombras o mundo do sol..."(Beira-mar, Zé Ramalho)

Assim sem medo de falar em primeira pessoa, dizendo e digerindo o que incide na minha vida, já não se importando mais com o que as pessoas vão achar, embora faça sim um grande esforço para explicar, não para a satisfação alheia, mas para a pessoal. Consciência limpa, brilhando como cristal, mas tão frágil e fácil de quebrar quanto ele. Meu lado intelectual é prático, parece ter todas as respostas, vive como se só precisasse de ar para sobreviver, mas o outro lado, o sentimental, o verdadeiro desdobramento material do espiritual, vive sonhando com um amor que não existe, precisa de tanto, tanto, tanto que tudo é sempre insuficiente. Não há sonho o bastante para disfarçar o sofrimento constante. A sabedoria concreta de vida é tão dura quanto o cimento que sustenta as paredes. Para quem se guia pelo sentimento o que sente é o que manda, se sinto simpatia trago pro meu lado, retribuo, se não gosto, não quero, tomo distância, o sentimento torna-se o critério de veracidade, referencial ético e fundamento inquestionável para qualquer ação. E com todo esse poder ele é um ditador. Conviver com as imperfeições, as minhas e as de todo mundo, é uma sala de aula a céu aberto, vinte e quatros horas, trezentos e sessenta e cinco dias, na terceira densidade a verdadeira alegria vem quando se descobre que somos capazes de causar felicidade, de fazer a diferença. A vida ganha sentido se dá sentido a uma outra vida, por isso querer amor e amar. O reino do pensamento, das razões, cheio de cálculos e equilíbrios, de estimativas e equações, quando mergulho nessas certezas, pesquisas e análises me sinto roubada da minha esperança e das minhas intuições. No fundo, e na superfície agora também. Percebo que os meus pensamentos criam sensações, e essas mesmas sensações criam emoções, e essas emoções criam a realidade. Tá tudo combinado.
...(",)

Vou sair pra ver o sol...


Você não quis me escutar/E o tempo não parou/Vou sair pra ver o sol/Vou mentir e dizer que eu não sou feliz/Vou sair pra ver o sol. (Detonautas - O Inferno São Os Outros)

Não adianta nada pedir ao tempo para voltar atrás, ele simplesmente ignora nossa vontade e o nosso desejo, mas não é tão cruel assim porque no que virá é onde poderemos consertar os erros do passado. Eu quero melhorar, mas nunca, jamais e em tempo algum busco a perfeição. Perfeito é alguém sem defeitos e isso não é pra mim, deve ser muito chato ser assim. O que eu fiz da vida é resultado das escolhas, é minha responsabilidade, mas o que a vida fez de mim é que é interessante, a estrada é longa e o tempo é curto e tenho a ilusão que sou diferente a cada ano, mas as estradas que eu tomei me levam a lugares que nunca sonhei. Não estou satisfeita ainda, quero mais pra mim, quero o melhor pra mim, mas não quero tudo pra mim. Por mais que me esforce muita coisa na minha personalidade jamais vai mudar. Por exemplo, viver tudo intensamente como se só houvesse céu ou inferno, sem meio termo. Essa é a dor e a delícia de ser quem eu sou. Nessa cordilheira de sonhos que é minha vida ainda me reconheço em fotos antigas e quando me olho no espelho tenho carinho pela minha figura, amar a si mesmo(a), não só pela estética ou pela imagem, mas pelo o que somos ao todo, foi uma das minhas grandes lições. Mas estou aqui sentada e envelhecendo, preciso logo seguir por aí, acho que vou sair pra ver o sol!
...(",)