domingo, 21 de fevereiro de 2010


"Toda folha de grama tem seu Anjo que se curva sobre ela e sussurra: 'Cresce, cresce” (trecho do "Talmude", um dos livros sagrados do judaísmo).

Se você não me conhece eu vou logo te dizer. Que não sou do tipo de pessoa que precisa ver alguém em pior condição do que a minha para me sentir bem. Dizem, para nos fazer sentir melhor, frases do tipo: “Se você reclama da sua vida então olhe pra vida de fulano”. Eu tenho em meu DNA algo que me faz sofrer e que ao mesmo tempo me faz sentir orgulho de mim mesma. Eu me coloco no lugar das pessoas e ao invés de sentir pena delas para me sentir bem eu procuro entendê-las e de alguma maneira ajudá-las. Embora haja bastante verdade numa comparação do tipo :“os seus problemas não são nada perto do que realmente sofrem algumas pessoas mundo afora.” Luto para valorizar quem sou sem precisar recorrer a dó. Dito tudo isso chegamos ao filme “Preciosa”, certamente um dos mais tristes e reais que já assisti em toda a minha vida. É uma adaptação de "Push", relato das experiências da poetisa americana Sapphire, pseudônimo de Ramona Lofton, ela mesma uma escritora afro-americana bissexual, assistente social e educadora em áreas de extrema pobreza e violência em Nova York. Aliás nos lugares de Nova York onde nós de terceiro mundo nem imaginamos que seria possível existir numa cidade de primeiro mundo tão idolatrada e tida como um lugar perfeito. A escritora escolheu este titulo para o livro , do qual o filme foi adaptado, porque “push” (força em inglês) é freqüentemente associada ao despertar e ao crescimento: ela fortalece seu corpo, abre portas, é gritada no momento do parto. ‘Força!’ é um comando, mas é algo que ninguém pode fazer por você. A personagem que dá título ao filme é Claireece Preciosa Jones, é obesa, negra, mora no Harlem de Nova York durante os anos 80 e sofre com tudo isso e por muitos outros motivos que ela nem sabe por quê. Como muitas coisas na vida o nome do meio dela é a grande ironia, Preciosa.Porque ela é humilhada por sua mãe, sofre abusos físicos e verbais dela, é tratada como uma empregada e é constantemente violentada pelo pai. E engravida dele duas vezes...seus filhos são filhos também de seu próprio pai.
E diante de tanta tristeza seus únicos momentos de prazer são seus pequenos devaneios, geralmente sonhando com a possibilidade de ser feliz, bonita e admirada.Seus sonhos me fizeram lembrar um pouco de “Amelie Poulain”.
Expulsa da escola por estar grávida de uma segunda criança aos 16 anos é integrada a uma escola alternativa de jovens adultos problemáticos, destinada aos alunos que não se enquadram “Os desencaixados. Os rebeldes. Os criadores de problemas. As peças redondas nos buracos quadrados.” E lá ela conhece uma professora que começa a mudar sua vida. “Preciosa” revela toda sujeira escondida debaixo do tapete, o que nos faz lembrar que em qualquer lugar, qualquer casa e qualquer lar isso existe. Mas a maioria de nós escolhe silenciar e fingir que está tudo bem. No filme, Preciosa aprende a colocar pra fora o que sente num diário e isso faz toda diferença para que ela se reconheça e que alcance sua redenção e seu renascimento. Preciosa é um estandarte, um símbolo que representa qualquer um, eu, você aquela mulher que parece feliz por ser bonita e rica, mas tem uma vida psicológica miserável. Enfim a todos nós algum dia já fomos ou nos sentimos discriminados ou subestimados. Eles nos escutam, nos protegem e nos vêem todos iguais porque seus olhos não são feitos de carne, eles são anjos cegos...(",)